5º Valor – Comunidade Pactual (Parte 2 – Família)

Clésio Pena

 Cada vez mais temos encontrado pessoas no ministério com um histórico conjugal desastroso — pessoas que se relacionaram com um, dois ou três parceiros e deixaram seu casamento inicial verdadeiro mesmo depois do compromisso de ser fiéis ao cônjuge por toda a vida. Alguns têm filhos com várias mulheres diferentes. Isso é assustador e tem chegado à nossa porta e às nossas igrejas. Pessoas próximas de nós abandonam a esposa, partem para um segundo relacionamento e ainda falam de aliança. Isso é inadmissível! Não tenho como ministrar sobre aliança se nem mesmo consigo manter a aliança básica, primária, inicial, que é o meu casamento. Não estou condenando ninguém que esteja nessa situação, mas precisamos levantar a bandeira de que algo está errado na construção de nossas famílias, pois há uma permissividade inaceitável nessa situação. Por vezes, considera-se mais trágico abandonar o emprego antigo do que a esposa antiga, ou o marido antigo.

Em toda família há um sacerdote. Deus copiou o modelo celestial da sua família para formar a família terrena, que tem como objetivo expressar o seu amor e ensinar aliança. A igreja precisa empoderar suas famílias e dizer ao homem: “Você é o homem e o sacerdote da casa; cuide de seus filhos e de sua esposa”; e às mulheres: “Cuide do seu marido”. É em casa que meus filhos precisam saber que nasceram para honrar a Deus, e não num retiro ou numa escola dominical. Essas coisas ajudam, mas é na família que se ensina a honrar a Deus. Isso deve ser um legado para os nossos filhos.

Anos atrás, em Rubiataba, pedi a John Walker que me permitisse encontrá-lo todas as tardes para conversarmos. Pela manhã ele preparava, como se precisasse, um estudo para podermos conversar à tarde. Numa dessas conversas, perguntei lhe o motivo por que havia deixado os EUA para vir ao Brasil, e ele me deu dois motivos: “Eu queria criar meus filhos longe do capitalismo e consumismo americano, e também que eles fossem apaixonados por Jesus”. Veja que a sua razão teve uma intencionalidade. As coisas não acontecem por acaso; eu preciso ter uma intenção (algo calculado) e trabalhar nela com fé. Se der errado, paciência. Agora, se eu não fizer nada, na melhor das hipóteses o meu filho será um bom religioso (vai à igreja, dá o dízimo etc.). Mas e daí? Eu quero um filho religioso ou um filho apaixonado por Jesus? Se eu quero um filho apaixonado por Jesus, tenho de trabalhar para que isso aconteça.

Certa vez, numa festa de aniversário, uma mulher, vendo a atitude obediente dos meus filhos à mãe deles, disse que ela teve muita sorte por eles serem assim. Sorte? Não! Isso foi resultado de estarmos, minha esposa e eu, todos os dias ligados, vendo e trabalhando para isso. Eles não são obedientes porque nasceram convertidos. John Walker fez um comentário interessante sobre um de seus filhos: “Aquele meu filho demorou demais para aceitar Jesus; só se converteu aos 5 anos de idade”. O que, realmente, estava em seu coração? “Esses meninos são Adõezinhos e precisam de algo no coração para que se convertam. Se, aos 5 anos de idade, ainda não aceitou Jesus, o que estou fazendo como pai?” Olha o choro e o anseio de ver a família apaixonada por Jesus! Os filhos de John Walker não fizeram cursos para se tornarem pastores, mas foram educados no evangelho, em casa. Precisamos levantar essa bandeira porque isso precisa acontecer mais vezes em nossos dias.

Li, sete vezes ou mais, o livro Sete Princípios para a Formação da Família Cristã, de John Walker, e descobri que é verdade o que ele escreveu. Tenho de criar meus filhos com objetivo, e dizer-lhes: “Estou batendo no seu bumbum para livrar a sua alma do inferno”. Mas hoje os pais se desculpam dizendo que o filho “tem muita personalidade”. Não! Ele não tem muita personalidade, o que ele tem é muito Adão dentro dele. E Adão só sai com a vara: “Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno” (Pv 23.13,14). Então, não é só colocar o filho para decorar versículos, mas colocá-lo debaixo da vara; isso sim o livrará do inferno.

Quantos de nós praticamos o culto doméstico diariamente? Você pratica isso, ou espera que seu filho vá a um encontro de jovens e se converta? Não tenho nada contra encontros e acampamentos para jovens. Foi em um desses encontros que meu filho caçula falou em línguas pela primeira vez. Foi lindo! Sou muito grato pela igreja, pelo Corpo de Cristo, mas preciso dar importância ao evangelho dentro da minha casa. Não se pode separar o evangelho da vida cotidiana. O que estou fazendo com a minha família para que ela se apaixone por Jesus? O que estou fazendo com as demais famílias à minha volta para que se apaixonem por Jesus? É triste ver as nossas concessões contribuindo para a ruína de nossas famílias. Isso é trágico! No evangelho, que é baseado em alianças, não nos é permitido fazer isso com o nosso casamento nem com os nossos filhos.

Minha esposa e eu tomamos sérias decisões, e as mais sérias depois da conversão e casamento foram em prol da nossa família e baseadas no evangelho. Essas decisões foram mais sérias do que nossas finanças, carreiras ou ministérios, porque queríamos uma família apaixonada por Jesus. Nós tivemos uma intenção nessas decisões. Isso não é garantia, mas até hoje posso dizer que está dando certo. Se tivéssemos jogado em “ponto morto”, não teríamos chegado ao ponto em que estamos com nossa família e filhos.

Você tem filhos? Tenha intenção de que eles sejam homens de Deus. Nós, pais, temos feito acampamentos no meio do mato e levado nossos filhos homens. Ao redor de uma fogueira, falamos para todos quem é o nosso filho, e o lançamos para o futuro: “Eu espero que você seja um grande homem de Deus”. Ministramos sobre sua vida, não colocando peso, mas liberando-o para o seu destino. Isaque abençoou seu filho Jacó em cima de uma mentira (pensou que era Esaú), e deu certo (a bênção “pegou”)! Nós temos abençoado nossos filhos em cima de uma verdade, mas para isso é preciso ter uma intenção de que eles sejam homens de Deus. Como Josué, devemos declarar: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”.

O mundo tem feito coisas erradas, mas seus filhos não precisam segui-lo, pois eles não são “todo mundo”. “Todo mundo namora”, você diz, “por que minha filha de 14 anos não pode namorar também?” Porque ela não é todo mundo. Ela é uma princesa de Jesus. Precisamos voltar para dentro de casa e educar a nossa família para que seja apaixonada por Jesus. Um colega e eu escrevemos um livro, o primeiro da UDF escrito por brasileiros, para o pai estudar juntamente com o filho o caminho da honra. Para que o pai ensine virtudes ao filho, ele tem de “andar nos trilhos”. Por exemplo: ele ensina o filho a não mentir, mas mente? Ensina a não roubar, mas rouba? Precisamos voltar para a família nas coisas básicas.

“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (1 Pe 3.7).

Se não trato a minha esposa com dignidade, as minhas orações poderão ser interrompidas. É isso que diz o versículo! Como um homem bate na esposa e quer ser um missionário cheio do Espírito Santo? Isso não combina. Como posso me apaixonar pelas meninas na rua, não cuido bem da minha esposa e ainda quero ser um missionário, um homem de poder? Brigo com a minha mulher, sem razão, e vou para o monte orar pedindo unção. Isso não combina de acordo com Pedro.

“Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo…” (Gn 18.19).

Abraão não foi chamado para ser pregador de televisão. Ele foi chamado para ensinar os filhos a guardar o caminho do Senhor e praticar a justiça e o juízo em casa. José nunca foi a uma igreja nem a uma escola dominical, mas quando a mulher quis seduzilo, ele lhe disse: “Por que eu cometeria tamanha maldade contra o meu Deus?”. Ele disse “não” a ela, não podia fazer aquilo porque havia aprendido em casa que não se devia fazê-lo.

Como está a minha casa? Eu tenho um núcleo que tem paixão por Jesus em casa? Nela eu não consigo ser religioso; já até tentei. O impostor que vive em mim só age na rua, na igreja e em outros lugares, mas dentro de casa, todo mundo sabe. Como está a sua casa? Como estão as casas e as famílias da sua igreja? Estamos abrindo concessões? Christopher, em uma de suas pregações, falou sobre os pagãos que sacrificavam seus filhos para alcançar benefícios dos deuses. Eles os queimavam para ter uma boa colheita. Hoje eu torro o meu filho no mercado de trabalho, numa faculdade, para que ele seja bem-sucedido. Mas, saiba, é melhor você morar longe do capitalismo, do consumismo, e ter filhos apaixonados por Jesus, do que fazer dele um grande profissional nessa terra. Isso seria trágico! Que Deus o abençoe, o desperte, o anime a ser um grande pai, um grande marido (ou uma grande esposa), um bom cuidador das famílias desse país.

Com tudo o que anda acontecendo sobre ideologias, a desordem e a confusão vão chegar. Se a igreja for perseguida, não poderemos nos reunir num prédio bonito com ar condicionado. Então, como vai ser? Em família. Por isso, precisamos empoderar as famílias. A igreja não pode mais competir com a família. Precisamos da igreja e a amamos, mas precisamos levar a sério a família, a nossa e a dos demais irmãos. Que Deus nos abençoe!